JEJUM, UMA ARMA PODEROSA
I. O ENSINO BÍBLICO SOBRE O JEJUM
1. Muitas das pessoas mencionadas
na Bíblia jejuaram. Dentre essas, destacam-se Moisés (Êx 34.28), Ana (l Sm
1.7), Davi (2 Sm 1.12; 12.22), a nação de Israel (Lv 23.27), Jesus (Mt 4.2), os
discípulos de João Batista (Mc 2.18; Lc 5.33), Paulo (At 9.9) e tantos outros.
2. Por toda a história da Igreja, grandes homens de Deus buscaram seu
poder e bênção através do jejum. Dentre esses, destacam-se Lutero, Calvino,
João Knox, João Wesley, João Nelson Hyde, João Bunyan, Daniel Berg e Gunnar
Vingren. Jonathan Edwards jejuou 24 horas antes de pregar o seu famoso sermão
Pecadores nas mãos de um Deus irado, cuja influência é sentida ainda hoje.
3. Carlos Finney, famoso evangelista americano do começo do séc. XVIII,
muitas vezes interrompia os cultos de avivamentos quando percebia que os seus
ouvintes se mostravam indiferentes à sua pregação, e imediatamente proclamava
um período de jejum e oração. Quando notava que Deus começava a despertar os
corações, reiniciava as suas reuniões.
II. TIPOS DE JEJUM BÍBLICO
De acordo com o estudo das Escrituras, existem pelo menos três tipos de
jejum: o completo, o parcial, e o que vou chamar de propósito com jejum.
1. O jejum parcial.
Não implica em abstinência de líquidos, mas apenas de alimentos sólidos.
Após o jejum de 40 dias e 40 noites no deserto, lemos que Jesus “teve fome” (Mt
4.2). Como seria fisicamente impossível uma pessoa normal jejuar por tanto
tempo sem ingerir líquidos, grande número de estudiosos da Bíblia acredita que
Jesus bebeu água; absteve-se apenas de alimento sólido.
2. O jejum completo.
Também chamado de jejum absoluto, consiste na abstinência de alimento
sólido e líquido (At 9.9). Deve ser praticado cercado de cautela, e não pode
ser muito prolongado, devido aos riscos para a saúde.
3. propósito.
É caracterizado pelo que se come e pela frequência com que se ingere. Em
primeiro lugar, o propósito significa abster-se de certos alimentos. Alguns
estudiosos das Escrituras interpretam a atitude de Daniel de não comer do
manjar do rei (Dn 1), como jejum. Em segundo lugar, implica em abster-se de
certos alimentos durante um período de tempo.
III. A DURAÇÃO DO JEJUM
1. Na maioria das vezes, o jejum bíblico durava apenas um dia. Ia de um
pôr-do-sol a outro. Isto é, a pessoa não comia algo desde o anoitecer até o fim
da tarde do dia seguinte. Só então ela podia ingerir algum tipo de alimento (Jz
20.26; l Sm 14.24; 2 Sm 1.12; 3.35).
Apenas Moisés, Elias e o Senhor Jesus são indicados na Bíblia como os
que jejuaram 40 dias seguidos.
2. Independentemente de qualquer determinação normativa quanto à duração
do jejum, o interessante é que cada um busque a orientação divina neste
sentido.
IV. OS PERIGOS DO JEJUM
Talvez lhe cause estranheza a afirmação de que existem alguns perigos na
prática indiscriminada do jejum.
Talvez seja por isso que a Bíblia não tenha um mandamento explícito com
respeito à melhor ocasião para o jejum e a duração dele. Dentre os principais
perigos que cercam a sua prática, destacam-se os seguintes:
1. Perigos de natureza física, quando praticado abusivamente e sem
orientação específica.
2. Jejum sem oração é mera privação de alimento, e não terá qualquer
valor perante Deus.
3. Um dos grandes perigos do
jejum é o problema da hipocrisia que às vezes cerca essa questão (Mt 6.16; Lc
18.12).
4. O legalismo é outro grande perigo relacionado com o jejum.
• A credibilidade do jejum não está na abstinência pura e simples de
alimentos, mas na sinceridade da pessoa que manifesta sua fé, ao privar-se de
alimentos.
O fato de algumas pessoas o praticarem apenas por legalismo, não
invalida o jejum. Quando alguém crê que Deus será louvado pela consagração de
seu corpo pelo tempo passado em oração e pela abstinência de alimentos, seu
jejum torna-se um ato de fé.
V. POR QUE JEJUAR?
O jejum distingue-se da greve de fome, cujo propósito é adquirir poder
político ou atrair a atenção para uma boa causa.
Distingue-se também da dieta de saúde, que acentua a abstinência de
alimento para propósitos físicos e não espirituais.
1. Devemos jejuar pela nossa nação.
É público e notório que a nossa pátria vive uma crise política, social e
espiritual sem precedente.
Os meios de comunicação de massa
transformam os lares brasileiros em verdadeiras lixeiras, com suas programações
recheadas pelo feiticismo, espiritismo e demais formas de ocultismo, que têm
feito do Brasil um centro de ação das forças do Inferno. Urge, pois, jejuarmos
e orarmos a Deus e pedir que Ele sare a nossa nação (2 Cr 7.14).
• Quando um número suficiente de pessoas entende corretamente do que se
trata, as convocações nacionais à oração e jejum podem ter resultados
benéficos. Em 1756 o rei da Inglaterra convocou um dia solene de oração e jejum
por causa da ameaça de invasão por parte dos franceses. João Wesley registrou
este fato em seu diário, no dia 6 de fevereiro: “O dia de jejum foi um dia
glorioso, tal como Londres raramente tem visto desde a Restauração. Cada igreja
na cidade estava mais do que lotada, e uma solene gravidade estampa-se em cada
rosto. Certamente Deus ouve a oração, e haverá um alongamento da nossa
tranquilidade”.
• Em uma nota ao pé da página,
Wesley escreveu: “A humildade transformou-se em regozijo nacional e a ameaça da
invasão francesa foi impedida”.
2. Devemos jejuar pelos nossos
próprios problemas.
Certamente a Igreja no Brasil perdeu muito da força do seu testemunho. A
sua presença hoje quase não é notada como uma influência positiva junto à
comunidade da qual é parte.
É o sal que perde o seu sabor e é pisado pêlos homens (Mt 5.13).
Por que isso acontece?
Devido à ausência do poder espiritual na vida do cristão como indivíduo.
• Deveríamos agir como Daniel
que, quando se achava diante de obstáculos espirituais aparentemente
intransponíveis, jejuava e orava (Dn 10.2,3).
Por isso o Senhor atendia-lhe a
petição (Dn 10.12).
• O jejum disciplina o corpo e torna-o um instrumento útil para Deus e
seu serviço na Terra (l Co 9.27). Quando jejuamos, afirmamos que o estômago não
é o nosso deus (Fp 3.19).
3. Devemos jejuar em tempos de
aflição.
Israel fez isso muitas vezes.
Jejuou face a uma iminente guerra com os benjamitas (Jz 20.26), bem como
antes duma terrível batalha contra os filisteus (l Sm 7.6). Na sua aflição,
quando em busca de um filho, Ana “chorava e não comia” (l Sm 1.7).
Davi demonstrou a sua intensa dor face à trágica morte de Abner, pelo
jejum (2 Sm 3.32-35).
• Evitemos jejuar na aflição
apenas como forma de dar atestado de compaixão por nós mesmos.
O mérito do jejum em período de grande aflição consiste em que ele fere
de morte o ego, torna a nossa oração mais eficaz e aciona o livramento divino.
4. Devemos jejuar antes de
tomarmos grandes decisões.
Antes de começar o seu ministério público, Jesus jejuou 40 dias e
40 noites (Mt 4.2). O envio de Saulo e Barnabé como missionários da igreja em
Antioquia, foi precedido dum período de jejum e oração (At 13.2).
• Quando jejuamos antes de
tomarmos grandes decisões, testificamos das nossas limitações pessoais, bem
como demonstramos a nossa firme decisão de confiar nas possibilidades e
promessas de Deus.
Esta é uma forma humilde e dependente de chamar o Senhor a intervir em
nosso favor.
5. Devemos jejuar na esperança da vinda de Cristo.
Face à pergunta dos discípulos de João Batista: “Por que jejuamos nós e
os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?”, Jesus respondeu:
“Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com
eles?
Dias, porém, virão em que lhe será tirado o esposo e então jejuarão” (Mt
9.14,15). Noutras palavras: enquanto Jesus estivesse com os seus discípulos,
era compreensível que
eles não jejuassem; porém, tão logo Ele (o esposo) voltasse ao Céu, os
seus discípulos jejuariam.
• A mais natural interpretação dos dias em que os discípulos de Jesus
jejuariam é a presente época da Igreja, especialmente à luz de sua intrincada
conexão com a afirmativa de Cristo sobre os novos odres do Reino de Deus, que
vem logo em seguida (Mt 9.16-18).
Arthur Willis argumenta que Cristo se refere ao momento presente da
Igreja, e não apenas ao período de três dias antes de sua morte e ressurreição.
Ele conclui seu argumento com estas palavras: “Somos, portanto,
compelidos a relacionar os dias de sua ausência com o período desta época,
desde o tempo em que Ele ascendeu ao Pai até que volte do Céu. Foi assim,
evidentemente, que os apóstolos entenderam suas palavras, pois somente após a
sua ascensão ao Pai é que lemos que eles jejuaram (At 13.2,3).
Antes do Noivo deixar a Igreja, Ele prometeu que voltaria de novo para
recebê-la.
Ela ainda aguarda o grito da meia-noite: ‘Eis o noivo! Saí ao seu
encontro’ (Mt 25.6). Esta época da Igreja foi que nosso Mestre se referiu
quando disse: ‘e nesses dias hão de jejuar’. O tempo é agora!”
• Contemporâneos dessa ausência
física temporária do Esposo, devemos jejuar na esperança e na expectativa de
sua manifestação triunfal, orando ansiosamente: “Vem depressa, amado meu…” (Ct
8.14). “O Espírito e a esposa dizem: Vem…” (Ap 22.17).
6. Devemos jejuar pelo
fortalecimento espiritual.
Certa vez o Senhor Jesus chamou a atenção de seus discipulos, de que
certas castas de demônios só sairiam com jejum e oração (Mt 17:14-21).
O jejum te faz ficar na dependência completa de Deus.
VI. COMO JEJUAR?
Já dissemos que jejuar é muito mais que abster-se de alimentos. O Antigo
Testamento define-o como “afligir a alma” (Is 58.3).
Desse modo, para que o jejum tenha algum valor perante Deus, é
necessário que tenha um objetivo espiritual específico.
Quanto à maneira correta de jejuar, atente para as seguintes
recomendações práticas, algumas extraídas do ensino do próprio Senhor Jesus.
1. Determine previamente o tempo
de duração do jejum.
Não é bom iniciá-lo sem a decisão prévia quanto ao tempo de duração.
Para o crente que não tem o costume de jejuar, o melhor é começá-lo em espaços
menores, e aumentar o tempo de duração à medida que tenha experiência no jejum.
2. Comece abstendo-se de alimentos apenas sólidos.
Já mostramos o risco do corpo permanecer por muito tempo sem ingerir
líquidos, principalmente nas primeiras experiências do jejum. Porém, à medida
que você adquire o hábito de jejuar, deve abster-se de líquido também.
3. Planeje algum tempo de oração durante o jejum.
Como dificilmente podemos nos dar à meditação e à oração enquanto
trabalhamos, seria pouco recomendável jejuar durante o exercício de nossas
atividades diárias.
Jejum e oração estão interligados.
4. Dê lugar ao arrependimento
no seu coração.
Em Davi temos o exemplo de um
homem humilde diante de Deus.
Ele mesmo diz: “Chorei, em jejum está a minha alma, e isso se me tornou
em afrontas” (SI 69.10).
O jejum que não torna o nosso coração manso e humilde, acessível ao
arrependimento, tem menos valor que uma greve de fome.
5. Escolha alguns versículos
bíblicos para meditação.
Dentre outros, o jejum tem a propriedade de aprofundar a meditação.
Portanto, nada melhor para meditar do que na Palavra de Deus. Devemos meditar
nos versículos que se tornam ponto de apoio para nossas petições durante o
jejum.
6. Jejue com um propósito específico.
Ester e as suas companheiras jejuaram para que os filhos de Israel
fossem poupados da tirania de Hamã (Et 4.16,17).
Jesus jejuou 40 dias e 40 noites com o propósito de vencer o adversário
e inaugurar o seu ministério terreno de forma triunfal (Lc 4.1-21).
De igual modo nós devemos ter um
propósito especificamente em mente ao tomarmos a decisão de jejuar.
7. Jejue com uma atitude de perdão.
Ira, amargura, ciúme, discórdia e medo – se estiverem dentro de nós,
aflorarão durante o jejum.
A princípio racionalizaremos que a ira é devido à fome; depois
descobriremos que estamos irados por causa do espírito de ira e a ausência duma
atitude de perdão, que há dentro de nós.
8. Jejue, não como os hipócritas (Mt 6.16).
Como jejuam os hipócritas?
Nos dias de Jesus eles o praticavam contristados, com rostos
desfigurados, como forma de dar a entender aos homens que jejuavam. Uma prática
frequente dos fariseus era jejuar nas segundas e quintas-feiras, porque estes
eram os dias de mercado e assim haveria maior audiência para ver e admirar a
piedade deles.
9. Jejue divorciado da falsa piedade (Mt 6.17,18).
Ao contrário dos fariseus hipócritas que revestidos duma piedade
superficial jejuavam para chamar a atenção dos homens, Jesus recomenda-nos:
“Porém tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto. Para
não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em oculto; e teu
Pai, que vê em oculto, te recompensará” (Mt 6.17,18).